Monday, October 1, 2007

Lenda viva do cinema conta história de seu pai em campo soviético



Lenda viva do cinema conta história de seu pai em campo soviético
12/09 - 17:37 - AFP

ImprimirEnviarCorrigirFale ConoscoLenda do cinema mundial, o polonês Andrzej Wajda apresentou nesta quarta-feira em Varsóvia seu novo filme, no qual ele conta a história trágica de seu pai, um dos 22.500 oficiais poloneses massacrados pelos soviéticos em 1940 na floresta de Katyn e em outros campos.


O cineasta, com 81 anos, escolheu colocar no início do filme chamado "Katyn" uma dedicatória "a meus pais".

Seu pai, Jakub Wajda, era capitão de um regimento de infantaria do Exército polonês. Ele foi executado com uma bala na nuca pelo NKVD, a polícia secreta de Stalin.

E como centenas de outras mulheres, sua mãe passou um bom tempo se recusando a aceitar a morte do marido. "Minha mãe se encheu de ilusão até o fim de sua vida, porque o nome do meu pai aparecia com outro sobrenome na lista dos oficiais mortos".

Simbolicamente, a estréia do filme vai acontecer em 17 de setembro, mesmo dia que, em 1939, o Exército vermelho invadiu o leste da Polônia para dividir o país com sua aliada, a Alemanha nazista, que começou a invasão em 1° de setembro.

Na primeira cena do filme, duas multidões se imprensam em sentidos opostos: uma quer fugir do Exército vermelho e outra da Wehrmacht, as Forças de Defesa alemãs. A narrativa termina com imagens das execuções realizadas uma a uma na floresta de Katyn.

A União Soviética negou imediatamente sua responsabilidade no massacre. O Ocidente ficou mudo para não azedar suas relações com Moscou, que se tornou um aliado indispensável na guerra contra Adolf Hitler.

O filme é uma ficção, mas como insiste Andrzej Wajda, ele é baseado em histórias e episódios autênticos. Uma boa parte do filme se passa em Cracóvia e conta a espera das mulheres entre 1939 e 1950. O cineasta utiliza imagens de arquivo filmadas pelos alemães durante a exumação dos corpos em 1941 e ainda as feitas pela propaganda soviética.

"Nenhum cineasta bem intencionado poderia filmá-lo na época comunista, se não, ele teria que apresentar a versão oficial", disse ele. Porque este filme mostra também a mentira contada pelo regime comunista polonês que persistiu em atribuir o massacre aos alemães.

Só em abril de 1990 o presidente soviético, Mikhail Gorbatchev, reconheceu a responsabilidade da União Soviética. Na Polônia, praticamente até a queda do comunismo, era proibido falar em Katyn, cuja floresta se tornou o símbolo do massacre das elites polonesas, que também ocorreu em outros locais, como em Kharkiv (Ucrânia) e Miednoïe (Rússia).

"Espero que façam outros filmes sobre este assunto. Meu filme deve ser apenas o primeiro", declarou o cineasta, que recebeu em 2000 um Oscar pelo conjunto de sua obra, numa carreira de mais de 50 anos.

"Finalmente esse filme existe", declarou o ator Andrzej Seweryn, presente na pré-estréia. "Toda a Polônia esperava por isso. Wajda não poderia deixar de fazer este filme, ele se preparou muito tempo para isso, ele estudou o assunto, procurou um bom cenário, era realmente importante para ele".

Para garantir o sucesso do filme, Wajda confiou as imagens a Pawel Edelman, responsável pela fotografia de "O Pianista", de Roman Polanski, e deixou a música a cargo do compositor polonês Krzysztof Penderecki.


mc/pg/LR

No comments: